descaminho I
meus pelos se desencaminham
quando passo o pente de meus dedos
na minha calota, o meu topo.
minhas idéias se desencaminham
quando passo a faca dos meus sonhos
no que sempre digo que farei.
meus desejos se desencaminham
quando passo o fogo de meu querer
no lixo que é minha cabeça.
meus gritos se desencaminham, também,
quando passo o tempo da minha vida
a ver navios onde não andarei.
meus sorrisos e bons-dias se desencaminham
quando as pessoas se encolhem, sempre,
pro golpe meu, que não virá
minha paixão e volúpia se desencaminham
quando você me olha, assim, debochada,
e vira as costas, e me vira as entranhas
e raízes...
mas tudo agora
já é passado, há exatos 3 segundos.
minhas idéias se recompõem,
fingidamente corajosas,
e me penteio
com meu pente flamengo.
e penso no que comerei,
já-já, meu ato falho.
sigo a rota, viro eu mesmo,
e desejo intensamente algo
que possa comprar
no primeiro shopping,
na primeira butique,
no primeiro desastre
no primeiro sorvo
de ar.
e rio e limpo as lágrimas, e repouso na mesmice
destas coisas todas... isso passa, sempre passará,
e o tempo da minha vida toda
ficará por conta do acaso.
juro, veemente, como sempre, que jamais
cumprimentarei pessoas que nada me dizem,
e que minha polidez se acabará
com o fim desta reflexão.
e me abandono completamente
à possibilidade do teu sorriso,
meu anjo exterminador,
um sorriso que, afinal,
podia ser franco, amoroso e amigo,
direto dos lábios para o coração,
bypassando de vez o meu topo
& a minha calota velha,
pra m’encaminhar de uma vez.
descaminho II
no meu topo, penso
no que sempre digo que farei,
no lixo que é minha cabeça,
a ver navios onde não andarei,
desatento pro golpe que não virá
até o minuto seguinte...
destas coisas todas, digo:
isso passa, sempre passará
se teu sorriso vier, amada,
meu anjo-benfazejo e meu extermínio,
bypassando o meu topo
& a minha calota velha.
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