olha o sopro do dragão
olha o sopro do dragão
ohlha o sopro do dragão -
não castra, vaca-morte,
minha imaginação
ohlha a não-concretização
da imobilidade do meu
coração
olha os furos perfurados
do meu
coração
a buraqueira, a fossa
que debalde cavastes...
goza o sopro abafado do dragão, morte-vaca,
cabra safada, perna-torta, agoureira
o teu remédio, teu elixir
pela última vez...
larga da minha mão,
que deixei de ser freguês
do meu negativo não,
e o meu quase, o meu talvez
ficou já bem pra trás...
agora sou só sim-de-verdade
sou fera à cata da felicidade
me larga, parca, então
respeita a minha a-fir-ma-ção
deixa de atropelação, bruxa-da-foice
que sou temente aos Deuses -
Os Todo-Poderosos
que sou diamante-bruto e rebrilhante
sou vivo, ágil, alegre, formoso
e tu és o nada, o vazio, o esquecimento,
vidro-fosco-sujo-podre-e-estilhaçado...
e não sorve mais meu pranto -
que nesse aperto, nesse desacato
já estou completo, desatado,
e te vencerei sempre pelo amor.
fica sabendo, morte-morrida - sou pura cor
sou forma, eletricidade, movimento, ação
e que não sou ouriço-caixeiro, e nem perereca
nem comida-estragada,
e nem bicho rasteiro
e nem minhoca.
o que eu sou agora, é
fenda aberta, greta, o cavucado, pororoca-voçoroca
montanhas inatingíveis de tão geladas e altas
o mar profundo, a onda perfeita,
as nuvens do céu, as estrelas,
a lua, o sol, os planetas-todos,
a mata fechada, a paz total, a total afeição
puro encanto, puro amor
incondicional
O que sou agora, morte-besta, é
um sonho, um sonho-bem-sonhado-e-imortal,
uma alma-pura-de-fera-bicho-animal
aves de arribação
arvore secular
pedra-de-toque
redonda e pesada,
a mais pura convicção
na força e glória dos Corifeus...
Ah, morte-besta, que não me finarei...
sou diamante, sou diamante rútilo, tu és vidro,
eu sou sempre eu, artista solitário no plano da Terra,
e tu - tu és apenas a porca-guerra
o nunca-mais, o desfazimento.
E se algum dia eu mesmo me finar,
voltarei ainda pra de vez te desancar -
o pior de todos os demos
e o mais sublime de todos os santos
cheio de alegria, imune à dor,
valente e puro como os unicórnios,
interminável como aqueles peixes-de-braços,
os eternos peixes-CELACANTOS