quarta-feira, 15 de setembro de 2010

LOCOMOTIVA


Quando te vejo, assim, tranqüila,
cuidando de teus botões,
uma paz pacífica e azulrosa
me invade, e fico
feliz.

São esses os momentos que gosto mais.
Assim, quieta, calminha,
mostras teu outro lado, a parede cai
e apenas musgos e hera verdinha
e fresca surgem no meu horizonte
visual.

No fim do dia
o sol crepuscular atravessa nossa janela,
e sempre vira em ouro e cobre
teus cabelos encaracolados, onde estás,
na poltroninha azul. Aí,
se me sorris (meio compenetrada,
meio brejeira), me arrepio,
fico desmontado e amnésico,
e esqueço até de mim...

Quando cuidas de teus botões
e puxas um fiapo da blusinha lilás
(a com miçangas da mesma cor)
p’ra esconder tua emoção,
e me abres em flor a tua
vida,
vou pro céu contigo, menina, mão na mão,
forte como um deus, e esqueço p’ra sempre
a locomotiva

que me atropela
muitas vezes
sempre
ou quase sempre

quando estás puta
com alguma bobagem
e, cega pras paredes,
colides
violentamente
co'as coisas
comigo
me atropelas
cega completamente
como um bagre
morto.

É. Mas quando te vejo, assim, calminha,
faceira, cuidando das nossas coisas,
sorrio também, esqueço tudo, tudinho,
e ohlho pra frente, querida, que
meu dia já está ganho,
o resto da minha vida me sorri,
e pouco falta pra lua-de-bolota aparecer
e vestir nossa nudez de prata...)

 

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